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Faiança, grés ou porcelana: descubra as diferenças

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Há mais de 20 anos a trabalhar em cerâmica, deparamo-nos frequentemente com algumas ‘confusões’ e muitos mal-entendidos, tanto na definição exata do que é cerâmica, como naquilo que este material nos permite criar.

A cerâmica é uma grande família, que reúne uma ampla diversidade de pastas cerâmicas: faiança, grés, terracota, porcelana são apenas algumas das mais populares. São todas pastas cerâmicas, mas são todas distintas entre si, apresentando as suas próprias características e implicando distintos processos de produção.

Decidimos esclarecer esta questão e explicar de uma vez por todas o que são pastas cerâmicas, identificando as particularidades que distinguem a ‘nossa’ faiança de outros tipos de pasta como o grés ou a porcelana.

COMEÇAR PELO PRINCÍPIO: A DEFINIÇÃO DE CERÂMICA

Com origem na palavra grega ‘Keramos’, que significa “arte queimada”, cerâmica refere-se à arte de produzir objetos artísticos, utilitários ou decorativos, usando como matéria-prima a argila, num processo em que a pasta é primeiramente moldada, e depois cozida a elevadas temperaturas para adquirir resistência, rigidez e cor. Ora, resumindo: objetos feitos de barro, uma substância mineral que pode ser encontrada na superfície terrestre.

Resultado de inúmeras formações geológicas, existem argilas de várias composições químicas e apresentando aspetos distintos. A maioria delas não está, em princípio, pronta a ser trabalhada, sendo, em vez disso, uma base para criar aquilo que se pode chamar de corpo argiloso “trabalhável” e que é conseguido através de adições e outros ajustes à sua composição natural.
Por outras palavras, uma pasta “trabalhável” é uma substância obtida a partir da mistura de matérias-primas plásticas, como o caulino, por exemplo, com outras não-plásticas, como o feldspato ou o quartzo. O que quer isto dizer em termos práticos? É esta conjugação de substâncias que fazem do barro uma matéria plástica/moldável, quando húmida, e dura/resistente quando cozida.

Ora: diferentes bases de argila, diferentes combinações. É aqui que surgem diversos caminhos: partilhando a mesma base argilosa, a faiança, o grés ou a porcelana variam, primeiro, na composição e depois na forma como são produzidas. Variáveis que lhes conferem diferentes características enquanto produto acabado e, por isso, finalidades distintas.

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PORCELANA, PUREZA E BRANCURA

Uma argila puramente branca, translúcida e de natureza não-plástica. A porcelana é, talvez, a “menina dos olhos da cerâmica”: nobre, fina, mas densa e impermeável, aproximando-se das características do próprio vidro. Para ser trabalhável, são necessários componentes de natureza plástica, que devem ser cuidadosamente adicionados de forma a não comprometam a cor branca da porcelana, que lhe é tão própria.

Uma pasta de alto-fogo, a porcelana é cozida a uma temperatura média que atinge os 1300º. Já a nível de acabamento, os vidrados da porcelana são por característica bastante fortes, à prova de riscos e de acabamento brilhante. Habitualmente não apresentam coloração, já que o objetivo é, uma vez mais, preservar a brancura natural desta pasta.

Embora se encontrem peças decorativas em porcelana, a loiça de mesa é a maior força desta pasta já que permite criar serviços de mesa impermeáveis, de grande durabilidade e sofisticação.

GRÉS, ESTILO MINERAL

Tal como a porcelana, também o grés é uma cerâmica de alto-fogo mas, ao contrário da primeira, é uma pasta plástica por natureza que apresenta uma composição dura, densa e impermeável, de tom amarelado/acinzentado.

Os vidros permitem obter resultados muito orgânicos, que permitem enfatizar o carácter mineral desta pasta, tanto pela cor como pela textura.  Embora a fusiblidade que resulta das altas temperatura a que são submetidos durante a cozedura permita reações muito próprias, tradicionalmente, o leque de decorações possíveis é mais reduzido do que nos vidros de baixo-fogo, utilizados na produção de faiança, por exemplo.

Este conjunto de características fazem do grés uma solução ideal para loiça de mesa, uma vez que a baixa porosidade desta pasta após a cozedura assegura elevada resistência, tornando-a uma solução viável para, por exemplo, responder eficazmente às necessidades de lavagem diárias da cerâmica de mesa.

As características estéticas, por sua vez, explicam também porque é que esta pasta tem estado tão em voga, até para fins decorativos – reúne todas os atributos para oferecer um aspeto orgânico e natural, cada vez mais procurado pelo mundo fora.

FAIANÇA, CRIATIVIDADE SEM LIMITES

faiança é, por sua vez, uma pasta porosa de baixo-fogo, que é impermeabilizada após a vidragem. Com uma cor acinzentada em cru, que aclara depois da cozedura, a faiança é uma pasta que existe em alguma abundância no solo. Portanto, menos especial ou menos nobre do que a porcelana, e menos “utilitária” do que o grés por ser mais leve e porosa, o grande fator diferenciador da faiança assenta no grande número de decorações, cores e acabamentos que podem ser explorados.

Cores vibrantes, acabamentos mate/brilhantes, lustrinas metalizadas e iridescentes – um número infinito de possibilidades que transformam esta “pasta pobre” em tudo o que se quiser, inclusivamente peças de grande valor acrescentado. É, sem qualquer dúvida, a pasta de eleição quando o objetivo é estético e, portanto, o material mais adequado quando se pretendem cerâmicas decorativas – uma vez que são, por definição, objetos feitos para atrair visualmente.

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CONCLUSÃO: A MELHOR CERÂMICA DEPENDE DO OBJETIVO

Entre diferenças e semelhanças, pode dizer-se que não existem pastas de boa ou má qualidade; mas sim, mais ou menos adequadas ao objetivo final.
Pretende uma linha de mesa resistente, duradoura e ‘sempre na moda’? Então, talvez a porcelana seja a mais adequada. Ou pretende algo orgânico, claramente cerâmico, e impermeável? Jarras, vasos ou também louça de mesa? Então, o grés. Ou pretende algo para adicionar cor e caracter à sua casa? Para peças decorativas de cores e acabamentos único, aposte na faiança: neste último estamos aqui para ajudar.

FONTES:
DOMINGUES, Celestino M., “Dicionário de Cerâmica”, Caleidoscópio, 2006. 
RHODES, Daniel, “Clay and Glazes for the Potter”, Revised Edition, 1972. 
RENAU, Rafael Galindo, “Pastas y Vidriados: En la fabricación de pavimentos y revestimientos cerámicos”, Colorobbia, España, S.A., 1994.